Friday, September 16, 2005

A PÁGINA NEGRA DO CRISTIANISMO

A PÁGINA NEGRA DO CRISTIANISMO(2000 Anos de crimes, terror e repressão)
Enrico Riboni (*)

PREFÁCIO

Há cerca de 2000 anos, nascia na Galiléia um fundador de seita,que acabaria crucificado uns trinta anos mais tarde. Algumas de suas últimas palavras na cruz foram "Dêem-me de beber". E só. Aseita que ele tinha fundado tornar-se-ia, com o passar dos anos, a maior de todos os tempos. Ela tomará o poder político dentro doImpério Romano, abolirá a liberdade de religião, depois ajuntarámontanhas de cadáveres: os seus membros massacrarão milhões de "infiéis", "hereges", "feiticeiras" e outros, depois sematarão entre eles próprios, levando a Europa a algumas das guerras mais ferozes que ela conheceu. Um passado destes poderia incitar a modéstia, mas os cristãos reivindicam, pelo contrário, omonopólio da ética. Proclamam que adoram o Deus único, que deus é "amor",e se consideram melhores que o resto da humanidade.Única ideologia capaz de dividir com o comunismo e o nazismo opódio dedicado às ideologias mais mortíferas da história humana, o cristianismo mantém-se como uma ideologia dominante em muitospaíses ocidentais, como o "gendarme do mundo", os EUA. Chegou a hora de abrir o "Livro Negro do Cristianismo: 2000 anos de terror, perseguições e repressão", que resume algumas das pioresatrocidades cometidas em nome dessa ideologia que pretende promover o amor ao próximo.Ano um"Os deuses não estavam mais, e Deus não estava ainda." OImpério Romano garantia a liberdade de culto. O ateísmo e a razãodominavam. É nessa época que nasce um sujeito que, segundo dizem certosjudeus, perdeu o juízo porque leu o Torah demasiadamente jovem. Ele fundauma seita que visa proibir o culto dos outros deuses, exceto o seu. O sujeito é, finalmente, morto, mas a seita se expande com oêxito que se conhece.O culto da personalidade do fundador da seita atinge, noscristãos, um nível que nem mesmo o estalinismo conseguirá igualar: ofundador é proclamado "verdadeiro homem e verdadeiro Deus", ("Deus-Homem", em linguagem comum). Os que duvidam disso são proclamadosimediatamente hereges, e sofrerão, mais tarde, os raios da Inquisição. Apartir do século IV da nossa era, começará o assassinato dosnão-crentes pelos cristãos.Anos 50-70A seita cristã se desenvolve. Textos gregos, escritos por membrosda seita fora da Palestina ("Os evangelhos") relatam a vida do fundador: nascido duma virgem, que se manterá virgem mesmo tendo váriosoutros filhos, ele terá sarado doentes, mas também amaldiçoa umafigueira que fica instantaneamente seca, e fará precipitar num lagocentenas de porcos que não lhe pertenciam (Nota 1). O fato de, segundo os evangelhos "canônicos", as suas últimas palavras sobre a cruzterem sido "Dai-me de beber" não parece perturbar os adeptos da seita,que se expande por todo o Império.A intolerância religiosa dos cristãos, que visam abertamente,desde o início, impor uma interdição aos cultos de deuses que não oseu, o qual eles insistem ser o "único Deus", começa logo a atrair aatenção da justiça romana, que defende a liberdade de culto, a qual éum dos pilares dessa sociedade complexa e multi-cultural que é oImpério Romano dos primeiros séculos da nossa era. A propaganda cristã inverte habilmente a situação. Os condenados pela justiçaromana são declarados "mártires" e os seus restos são venerados nasigrejas, inventando-se a lenda de eles terem sido executados por terem "recusado a renegar a fé", desculpa essa bem melhor do que a verdade nua, que mostra que foram condenados por desordem eimposição da intolerância religiosa na sociedade multi-cultural.Ano 312Tomada do poder pelos cristãos. No fim duma guerra civil,Constantino toma o poder. Pouco depois ele se converte oficialmente ao cristianismo, e "autoriza", num primeiro tempo, o culto do deusúnico cristão, pelo Édito de Milão: é o início daperseguição religiosa na Europa. Pouco a pouco o culto dos outros deuses, exceto o deus cristão, vai sendo proibido. Os santuários clássicosserão destruídos ou transformados em igrejas cristãs. No fim do século IV, naohaverá mais nenhum templo pagão em toda a bacia do Mediterrâneo.Ano de 380O imperador Teodósio proclama oficialmente o Cristianismo a única "Religião de Estado". Mas ainda será necessárioesperar mais 12 anos para que todos os outros cultos sejam definitivamente proibidos.Ano de 389Teófilo, hoje Santo Teófilo, é nomeado patriarca deAlexandria e inicia imediatamente uma violenta campanha de destruição de todosos templos e santuários não-cristãos. Tem o apoio do pioimperador Teodósio. Deve-se a Teófilo a destruição, em Alexandria, dostemplos de Mitríade e de Dionísio. Essa loucura destruidora culmina em391 com a destruição do templo de Serapis e da sua biblioteca. Aspedras dos santuários destruídos serão usadas para edificar igrejaspara a nova religião única, a cristã.Em seguida e para demonstrar que ele é capaz de perseguirtambém cristãos (na medida em que eles nao sejam 100% ortodoxos),Teófilo comanda pessoalmente as tropas que atacam e destroem os mosteiros que aderiram rs idéias de Orígeno, um teólogo cristão que foideclarado herege porque afirmava que deus era puramente imaterial.Ano de 389Pela primeira vez, um chefe cristão dita a um imperador, apolítica a ser seguida: Santo Ambrósio de Milão, levanta-se em plenacatedral, e com o sentido de caridade tão particular aos cristãos, impõeque o imperador anule a ordem que dera ao bispo de Calinicum, sobre o Eufrates, para que reconstruísse uma sinagoga que ele e a sua congregação tinham destruído. A igreja toma partido assim,desde o princípio, dos incendiários de sinagogas, posição quecontinuará a manter até ao ano de 1940.Início dos anos 390O piedoso imperador cristão Teodósio interdita progressivamentetodos os cultos não cristãos. Pouco a pouco, os templos nãocristãos são fechados ao culto, as procissões "pagãs" são proibidas. Esta supressão da liberdade de religião, em proveito exclusivo do cristianismo, causa por vezes revoltas, como a de 408, em Calama, na Numídia. É nessa época que acontecem na Germânia asprimeiras execuções de hereges, uma bela tradição que a igrejadesenvolverá com a Inquisição e a perpetuará até 1826.Ano de 391Uma multidão de cristãos, guiados por Santo Atanásio e SantoTeófilo, deitam abaixo o templo e a enorme estátua de Serapis, emAlexandria, duas obras-primas da antiguidade. A coleção de literatura dotemplo também é igualmente destruída.Ano de 412Cirilo, hoje Santo Cirilo, doutor da Igreja, é nomeado bispo de Alexandria e sucede a seu tio Teófilo. Excita os sentimentos anti-semitas difundidos entre os cristãos da cidade e, a frente duma multidão de cristãos, incendeia as sinagogas da cidade e fazfugir os judeus. Em seguida encoraja os cristãos a tomar os bens dos fugitivos, deixados para trás.Ano de 415Hipatia, a última grande matemática da Escola de Alexandria,filha de Theon de Alexandria, é assassinada por uma multidão de monges cristãos, incitados por Cirilo, patriarca de Alexandria, queserá depois canonizado pela Igreja. O motivo dessa ação foi que a brilhante professora de matemática, representava uma ameaçapara a difusão do cristianismo, pela sua defesa da Ciência e do Neoplatonismo. O fato dela ser mulher, muito bela e carismática, fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos doscristãos. A sua morte marcou uma reviravolta: após o seu assassinato,numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do mundo antigo. Além do mais, a Ciênciaretrocederá no Ocidente e não atingirá de novo um nível comparável ao daAlexandria antiga senão no início da Revolução Industrial. Os trabalhosda Escola de Alexandria sobre matemática, física e astronomiaserão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e também chineses. O Ocidente, pelo seu lado, mergulha no obscurantismo, do qual começará a sair mais de um milênio depois. Emreconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica edos judeus de Alexandria, Cirilo será canonizado e promovido a "Doutorda Igreja", em 1882.Séculos V a XVA "Idade Média Crista". Aproveitando o desaparecimento das grandes bibliotecas romanas e na ausência quase total da atividadeeditorial na Europa, a igreja obtém, de fato, um monopólio sobre oconjunto da escrita e da informação. O povo é deixado propositadamente na ignorância, a leitura da Bíblia é desencorajada mesmo nocaso de se ter acesso a um exemplar. Pouco a pouco, a igreja impõe o seudomínio sobre a sociedade. A inquisição, o celibato dos padres (Nota 2), o caráter obrigatório de casamento antes de qualquer relaçãosexual, são todas instituições que datam dessa época. É tambémnessa época que se desenvolve o que se tornará uma das mais ricas tradições cristãs: queimar pessoas vivas. Cerca de um milhão de "bruxos"serão torrados durante a Idade Média. As cidades concorrerão paratentar bater recordes de quantidade de bruxos queimados por ano. Um recorde imbatido foi estabelecido pela cidade de Bamberg, sede do episcopado, que conseguiu assar 600 feiticeiros num só ano.Um grande número de membros da igreja atual ainda lamenta o fimdessa época, quando a igreja dominava totalmente a vida social.Religiosos (e outros) cristãos lembram com saudade, a "espiritualidade" da época, a arte que deu grande ênfase à morte - assunto quesempre apaixonou os cristãos, e a música envolvente.Ano de 804O imperador cristão Carlos Magno converte grande número desaxões, propondo-lhes a seguinte escolha: converter-se ao catolicismo ou serem decapitados. Vários milhares de cabeças caem, com abenção da igreja: os sacerdotes presentes participam da jogada do imperador.Século IXCisma do oriente. O patriarca de Constantinopla pretende que se deve utilizar o pao com levedura, para a Eucaristia. O Papa, bispo de Roma, afirma que se deve usar pão sem levedura. Com base neste problema de capital importância, a cristandade se divide, e osdois patriarcas, de Roma e de Constantinopla, se excomungam mutuamente. O Cisma vai provocar mortes até aos anos 90 (guerras nos Balcãs,ex-Iugoslávia, de católicos contra ortodoxos).Ano de 1182Os "pogroms" latinos de Constantinopla. Na cidade do piedoso patriarca que come pão levedado, estabeleceu-se, desde o iníciode século XII, uma colônia de mercadores "latinos", essencialmente originários de Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi. Mas essas pessoastêm tudo para desagradar aos prelados ortodoxos: além de utilizarem opão sem levedura para a Eucaristia, fazem o sinal da cruz no sentido errado, da esquerda para a direita e não da direita para aesquerda! Os popes excitam a população e enfim, nos dias radiosos de maio de 1182, a multidão guiada pelos popes pegam os latinos: váriosmilhares deles, homens, mulheres e crianças são trucidados.Séculos XI e XIIEm face do crescimento da população da Europa, a Igreja propõeum método de controle populacional "natural": as cruzadas. O apeloàs cruzadas foi lançado em 1095. Em 1099 Jerusalém é"libertada": logo que as tropas cruzadas entraram na cidade, o governador muçulmano rendeu-se sob a promessa da população civil ser poupada. Claro, a totalidade da população (que compreende essencialmente judeus e muçulmanos) é passada pelas armas nas horas seguintes, mas como cuidado de antes violentar todas a mulheres e decapitar ascrianças. Estima-se em 70.000 o número de civis massacrados. A últimafase do massacre passa-se nas sinagogas e mesquitas da cidade, onde os habitantes aterrorizados se refugiaram: pensam que o caráter religioso dos locais possam inspirar os piedosos cruzados a clemência. Nada disso acontece: os cruzados entram e transformamos locais de culto em vastas carnificinas. O massacre de milhares de civis amontoados na grande mesquita da esplanada do templo dura várias horas. "Tudo o que respira" na cidade foi morto, informamcom orgulho os comandantes dos cruzados.Ano de 1204A 4ª Cruzada fez uma parada em Constantinopla, na época a maior cidade cristã. Mas os cristãos sabem fazer entre eles o quefazem aos outros: durante três dias, Constantinopla foi posta a saque, comuma orgia de violências indescritíveis.Anos de 1208 a 1244Cruzada dos Albigences: por iniciativa do papa Inocêncio III, uma cruzada é preparada. Em 1209, como alguns "hereges" se haviam misturado com a população de Beziers, o duque Simon de Monfort deu uma ordem que lhe assegurou a posteridade: "Matem-nos todos, Deus reconhecerá os seus". Toda a população, homens, mulheres ecrianças são passados pelas armas. A Provence e a região de Toulouseficam muito despovoadas após essa guerra que é dirigida contra apopulação civil, com uma ferocidade sem precedentes desde as invasõesbárbaras.Anos de 1226 a 1270Luís IX, rei de França. Finalmente um católico, dereputação piedosa e íntegra, acede a coroa de França. A igreja o canoniza em1290, em reconhecimento de seus méritos que, ninguém duvida serem excepcionais. De fato, durante o seu reinado, São Luís lançaduas cruzadas, que terminam as duas de modo catastrófico: poucoimporta, é a intenção (de matar e de pilhar) que conta, aos olhos da misericordiosa igreja católica! No plano interno, São Luís(Nota 3) faz de modo que a justiça puna de modo sistemático osblasfemadores: são postos nos pelourinhos e tem as suas línguas atravessadaspor ferros em brasa.Ano de 1231Fundação da Inquisição. O Santo Ofício, durante toda a suahistória, queimou mais de um milhão de pessoas, essencialmente hereges,judeus e muçulmanos convertidos e também os "bruxos". A últimafeiticeira será queimada em 1788. O último "herege" chegará a sua vezem 1826. A inquisição e os seus imitadores protestantes queimam tambémmédicos e cientistas, desde que haja uma oportunidade.A igreja nunca se arrependeu dos atos da Inquisição e atégarantiu a continuidade histórica da instituição até aos nossos dias,limitando-se apenas a mudar-lhe o nome: será necessário esperar que PioX, em 1906, faça que o "Santo Ofício da Inquisição" seja renomeado como "Santo Ofício", e em 1965, para que seja rebatizado como "Congregação para a doutrina da fé". Enfim em 1997, o papaabre os arquivos do Santo Ofício, e historiadores escolhidos a dedo,são autorizados a fazer pesquisas. As estimativas do número total de vítimas da inquisição são então revistas para cima,havendo um consenso que roda hoje em torno de um milhão de pessoasexecutadas, ao qual é necessário acrescentar as inúmeras pessoastorturadas e com todos os seus bens apreendidos.Ano de 1251O papa Inocêncio IV autoriza enfim a inquisição a praticar atortura. A obtenção das confissões de culpa é grandemente facilitada.A inquisição pode aplicar, com base em confissões arrancadasatravés de tortura, penas indo duma simples oração ou dum jejum até a confiscação dos bens e mesmo prisão perpétua. Mas ela nãopode condenar a morte. Com a subtileza característica da igrejacatólica, a inquisição podia "passar" um herege para a justiça comum, queo levará a morte na fogueira, com base na confissão obtida pelaigreja, mesmo com tortura. Essa subtilidade permitirá a igreja afirmar que ela nunca matou ninguém.Anos 1347 a 1354Em toda a Europa reina a Morte Negra, a primeira grande epidemia de peste no continente. Os prelados católicos logo descobriram os culpados: os judeus teriam envenenado os poços de água. Esseboato espalha-se por toda a Europa e inúmeros "pogroms" acontecem. Na Alemanha contam-se 350 comunidades judias totalmente destruídas pelos "pogroms", nesse período. Na Itália, em Milão, asautoridades civis e eclesiásticas, depois de terem executado no braseiro os "untori" judeus, inauguraram uma coluna comemorativa para lembrar o seu feito. Essa coluna passou a História com o nome de "Coluna infame", quando, no século XIX , o romancista Manzoni teve, em primeira mão, a coragem de denunciar esse monumento deperversão religiosa.Ano de 1483Tomás de Torquemada é nomeado Grande Inquisidor de Castela.Esse monge dominicano (Nota 4) faz uma ampla utilização da tortura e do confisco dos bens das vítimas. Estima-se em 20.000 o número de pessoas queimadas durante o seu mandato.Ano de 1487Dois monges dominicanos alemães, Jacob Sprenger e HeinrichInstitoris publicam o "Malleus Malleficarum": trata-se dum espesso volume de 400 páginas que é um guia (claro que aprovado pela hierarquiacatólica) de caça às bruxas. Lá se pode aprender a identificá-las(p. ex. se uma mulher acariciar um gato preto e a centenas de metros alguémse sentir mal, etc), a torturá-las para as fazer confessar, e como os inquisidores podem se absolver mutuamente, depois duma sessão de tortura. A obra afirma também que negar a existência dafeitiçaria é uma heresia muito grave, passível de morte na fogueira. Durantedois séculos e meio, na Alemanha, depois da publicação do Malleus Malleficarum, negar a bruxaria podia levar ao braseiro. O manual foi um "best-seller".Ano de 1492O rei "muito católico" e a rainha "muito católica" (títulosdados pelo papa em pessoa!) de Espanha, expulsam os judeus. Eles podem escolher se converter, para então poderem ser justiçados pela inquisição (que queimará grande número deles) ou partir.Mais de 160.000 judeus saíram da Espanha. A hierarquia católica nãofica indiferente a essa medida duma crueldade assustadora: ela aprova a medida, e o papa encoraja os outros soberanos europeus a se inspirarem no exemplo espanhol. Em toda a Europa os padrescatólicos se mobilizam para obrigar os governos a proibir a entrada dos judeus expulsos.Os judeus que escolheram se converter são perseguidos pelainquisição com uma impressionante determinação: até ao século XVIII,far-se-á o "Teste da banha de porco" aos judeus convertidos e seus descendentes: uma salada com pedaços de carne e banha de porcoé apresentada ao "convertido". Se for notado que ele não comeu acarne suína, será queimado como "falso convertido". Esse métodoserá também aplicado aos muçulmanos e seus descendentes.Se a expulsão dos judeus de Espanha foi a maior do gêneroregistrada na História, não foi a primeira. Na França, os preladoscatólicos tinham já conseguido a expulsão dos judeus em 1306, e que foilogo revogada, antes de ser confirmada em 1394. A Inglaterra já tinha procedido à expulsão em 1290. Em 1496, Portugal imita o seupoderoso vizinho, expulsando também os judeus.Ano de 1493O primeiro índio da América no paraíso. QuandoCristóvão Colombo, que teve o cuidado de levar um monge nas bagagens, chega a América,ele encontra os índios que ele descreverá como gente amigável esolícita. Prende 12 deles e os leva para Espanha. Na chegada, um deles fica doente: antes da sua morte, é batizado rapidamente, o que permitea corte dos muito católicos reis exultar, porque um indígena doNovo Mundo acabava de entrar no paraíso cristão. Esta tristehistória marcará o início da trágica cristianização dos índiosamericanos, onde os episódios dos redutos do Paraguai e as perseguições aos índios Pueblo serão alguns dos mais trágicos.[A evolução desencadeada pelos descobrimentos percorreu caminho semeado de crimes e atrocidades: conquista sangrenta e colonização das Américas, genocídio de povos e de culturas, tráfico de12 milhões de africanos, imperialismo na África e Ásia. Não obstante, oprocesso posto em marcha pelas descobertas rompeu, de uma vez por todas, a falta de contato e conhecimento entre civilizações e culturas.Tudo feito com apoio da "santa igreja católica"]Ano de 1499Acontece neste ano o maior "auto da fé", que a Históriaregistra. Em um só auto de fé, o inquisidor Diego Rodrigues Lucero queimavivos nada menos que 107 judeus convertidos ao cristianismo, em Córdova.Século XVIO drama dos castrados. A igreja, que tinha proibido que mulheres cantassem no coral das igrejas, enfrenta um problema trágico: como não torturar os ouvidos dos piedosos prelados de cristo,privando-os das vozes sopranas, tão importantes nos coros para louvar o amor a deus? Uma solução bárbara é encontrada: castrar jovensmeninos cuja voz tenha sido considerada bela. Nos corais da Santa Igrejacatólica não faltarão assim nunca os sopranos e contraltos...Esta prática bárbara só terminará em 1878, por ordem doPapa Leao XIII. Mas é mantida ainda durante o século XIX, ao ponto deRossini, quando ele compôs a "Pequena missa solene", escrever, com naturalidade, que serão suficientes para executá-la, "um pianoe uma dúzia de cantores dos três sexos, homens, mulheres e castrados".Ano de 1506"Pogrom" de Lisboa: 3000 judeus são trucidados pelos piedosos católicos, incitados pelos prelados.Século XVIJúlio II della Rovere, papa. Hábil chefe militar, ele veste uma armadura durante a missa, quando um monge insolente lhe diz que o traje não é conveniente. "Quando se trata de conquistar terras,deus não faz questão do traje, mas da fé do seu servidor", lheresponde, passando assim a História. Deus lhe permitiu, de fato, conquistara cidade de Bolonha, que foi, como deveria, posta a saque.Ano de 1521Inspirado pelo Espírito Santo, que aparentemente não tinha quefazer, um monge alemão, Martin Luther, traduz do latim o "NovoTestamento", em algumas semanas. O diabo acaba de o tentar: Lutero não encontra coisa melhor a fazer do que lançar sobre ele um tinteiro, que sujaa parede. Essa mancha está religiosamente preservada para osturistas do castelo de Wartburg.O acontecimento pareceria insignificante. Mas não é, pois ele inaugura o maior cisma da cristandade: durante os séculosseguintes, os cristãos vão-se massacrar mutuamente ainda com maisentusiasmo do que quando eles matavam e queimavam os não-cristãos, oshereges, as bruxas, os judeus e muçulmanos convertidos, etc.Lutero escreverá e dirá diversas vezes que era necessárioqueimar as sinagogas e escorraçar os judeus das cidades: ele se situa assim dentro da tradição dos pais da igreja católica, e que serámantida até ao século XIX pela inquisição e depois no século XXpelos camisetas negras (seguidores de Mussolini).Ano de 1527Saque de Roma. Os soldados protestantes massacram a totalidade da população de Roma, umas 40.000 almas, e pilham a cidade. O papaé salvo pelos guardas suíços. Ele se fecha com eles no Castelo deSanto Ângelo, enquanto a população é massacrada. Ele passou umgrande medo. Os suíços ganham assim uma fama profissional no estrangeiro, o quese perpetua até hoje.Ano de 1553Calvino, que condena os excessos da Igreja Católica, faz decapitaro livre-pensador e médico Michel Servet, que havia descoberto a circulação sanguínea. Esse é somente um dos 15 hereges que o reformador fez executar durante a sua ditadura sobre Genebra.Calvino tem um papel muito ativo na prisão e depois nacondenação a morte de Michel Servet. Primeiro ele troca correspondência com elee depois que o médico, fugindo da inquisição, chega a Genebra,manda-o prender. Calvino havia dito a seu amigo, o reformador Farel, que se Servet entrasse em Genebra, de lá não sairia vivo. Ele mantevea sua promessa e interveio pessoalmente no julgamento pedindo a sua execução. A única clemência dada a Servet foi dedecapitá-lo em vez de ser queimado vivo.Ano de 1571A invenção da imprensa permite que um número crescente depessoas se informe. A igreja reage criando o Índex (Index Additus Librorum Prohibitorum): essa instituição editava regularmente a lista dos livros proibidos. A última edição do índex foi publicada em1961.Anos de 1566 a 1572Pio V, papa. Este santo da igreja católica, vangloria-sepublicamente diversas vezes de ter, durante a sua carreira de inquisidor, colocado fogo com suas próprias mãos de mais de 100 fogueiras de heregesque ele mesmo acusara, confundira e condenara.Publica também uma nova edição do catecismo oficial da igreja,no qual o amor ao próximo e a misericórdia ocupam um lugarimportante.Anos de 1547 a 1593Guerras de religião na França. As sub-seitas cristãsentregam-se a uma guerra civil sem perdão, interrompida por diversas pazes e tréguas temporárias. Durante uma delas, teve lugar o massacrede 20.000 protestantes, homens, mulheres e crianças, numa sónoite, a tristemente célebre Noite de S. Bartolomeu (1572).Fim do século XVI até ao início do século XVIIIConversão forçada dos índios Pueblo. Subindo pela costa dogolfo do México, os exploradores espanhóis, sempre acompanhados demonges e padres, entram em contato com a tribo dos Pueblo, no territórioque hoje pertence ao estado americano do Novo México: diferentes dos índios nômades das planícies do Norte e de outrosindígenas mais combativos que os espanhóis encontraram no México e naAmérica do Sul, os índios Pueblo vivem em aldeias (los pueblos) de casas de tijolos com 2 ou 3 andares, são pacíficos e praticam aagricultura. Seguem uma religião na qual se venera o "Pai do Céu" e a "TerraMae", temem os demônios (os Skinnwalkers) que andam pela crista das montanhas ao pôr do sol, veneram os corvos como re-encarnaçãodos seus antepassados. Eles tem também um rico templo de deuses semelhantes aos dos gregos, sendo o seu deus principal a mulher-aranha. As cerimônias são celebradas em pequenas igrejasfamiliares, as Kivas. Estes pacíficos agricultores logo se tornam os objetosdas atenções dos padres espanhóis, impacientes por substituir oculto ao Pai Céu e à Mãe Terra por aquele de cujo deus se bebe osangue durante as cerimônias: os pajés índios são acusados debruxaria e executados. As Kivas são destruídas pelos militareshispânicos. Os cultos religiosos tradicionais são proibidos, sob pena demutilação. Índios surpreendidos a celebrar uma cerimônia tradicionalterão um braço ou um pé cortados. Apesar disso tudo, alguns índioscontinuarão a fazer os seus cultos, em segredo e a noite. Os padres católicos usarão esse fato nos seus sermões e que os índios ainda hojecitam com amargura: os padres diziam que a religião dos índios era adas trevas, pois era sempre feita durante a noite, enquanto que o cristianismo era a religião da luz, pois se come a carne e se bebeo sangue do deus cristão em pleno dia... Diversas revoltassangrentas pontuam a cristianização dos Pueblo. Essa perseguição religiosasó cessará depois da anexação do território pelos EUA, em 1847.Ano de 1600Giordano Bruno é queimado vivo em Roma, condenado por heresia. Ele havia ousado definir o Universo como infinito e admitido ahipótese da existência de formas de vida fora da Terra. Era demais para a igreja. Depois de 8 anos de processo, durante o qual lhe são arrancadas confissões, sob tortura, ele é condenado a morte como "herege obstinado e ímpio". Ele se defende tentando mostrarque as suas idéias não estão em contradição com as doutrinascristãs, mas em vão. Ele foi queimado vivo, em público, em Roma, no Campodei Fiori. Tiveram o cuidado de lhe cortar a língua antes de o enviarao local da execução, para evitar todo o risco de que as suaspalavras não emocionassem a multidão que veio assistir ao espetáculo.O seu principal acusador, o cardeal Bellarmino, será mais tardecanonizado e em 1930, proclamado "Doutor da Igreja".É interessante notar que, se no caso de Galileu, a igrejacatólica expressou o seu arrependimento no fim do séc. XX, com a sua reabilitação em 1992, nunca se arrependerá da execução deBruno. Pelo contrário, ela se opôs com veemência a instalação dumaestátua de Giordano Bruno, em 1889. Em 1929, o papa pediu a Mussolini para que destruísse essa estátua, antes de canonizar e depois nomear"Doutor da igreja" o cardeal Roberto Bellarmino, acusador de Giordano Bruno.Ano de 1609Expulsão dos mouros de Espanha. Depois da expulsão dos judeusde Espanha, a inquisição se aborrecia um pouco nesse belo país.Lança então a caça aos "morescos", os árabes convertidos aocristianismo. Há a suspeita de serem falsos convertidos e são executadostodos os que se recusam a beber vinho ou comer carne de porco, ou que sejam limpos demais. Com efeito, o Islamismo, contrariamente ao cristianismo, prescreve lavagens periódicas. A higiene nunca foitão perigosa como no séc. XVI em Espanha! Enfim, em 1609, temendotalvez ter deixado passar alguns falsos convertidos, a inquisiçãoconsegue do rei a expulsão dos "morescos" para o Norte da África. Onúmero dos expulsos é mal conhecido: as estimativas variam entre 300.000 e 3.000.000. Os expulsos chegam a terras islâmicas, onde o Corãoprevê a pena de morte para os que renegaram Maomé...Ano de 1633Processo de Galileu. Por ter duvidado da teoria geocêntrica de Ptolomeu, (que diga-se de passagem, não era cristão), GalileoGalilei é obrigado a retratar-se: são-lhe mostrados os instrumentos de tortura que seriam usados se ele insistisse. O processo de Galileusó foi reaberto para revisão pelo papa João Paulo II, e Galileué reabilitado em 1992.As suas obras já tinham sido colocadas no Índex em 1616.Passará o resto da sua vida confinado na sua casa (prisão domiciliar). Foi a sua reputação internacional de cientista que lhe evitouconseqüências mais graves.Ano de 1618 a 1648Guerra dos 30 anos. Os muito católicos reis de Habsbourg,forçam a conversão dos seus súbditos protestantes da Boêmia,iniciando a maior guerra que o continente europeu tinha conhecido. A população da Alemanha é reduzida à metade. Numerosas cidades sãodevastadas. Epidemias de peste assolam toda a Europa Central, desde a Lombardia até a Prússia.Trata-se realmente duma guerra religiosa, embora as igrejas tenham tentado fazer crer que se tratava dum conflito político: a guerra iniciou-se por conflitos religiosos e pela ação de reisestrangeiros, como Gustavo II da Suécia, que intervieram por razoes deconvicção religiosa. O caso de Gustavo II é particularmente significativo,pois obrigava os seus soldados a cantarem canções religiosas todas as noites, embora eles fossem uns terríveis saqueadores. Oexército sueco ganhou o título de "Schrecken des Krieges", pelapopulação alemã, que teme a pilhagem dos suecos ainda mais do que as feitas pelos exércitos dos Habsbourg.Segunda metade do séc. XVIIIO assunto das missões do Paraguai. Este caso é particularmente interessante, pois aqui os católicos se massacram e se excomungam entre eles. Os jesuítas haviam estabelecido no Paraguai um pequeno império particular feito de missões (redutos), ou seja pequenas aldeias fortificadas na floresta, onde viviam os índiosconvertidos ao cristianismo, mas uma correção das fronteiras coloca algunsdesses redutos em território português. Nestas correções osíndios eram obrigados a seguir as normas ditadas pelos jesuítas. Ora,Portugal, país católico e cristão, mantém na época a tradiçãoda escravatura: os portugueses pensam então roubar aos jesuítas os índiospara depois vende-los como escravos.O papa intervém, excomunga os jesuítas das missões. Depois,um exército, com os canhões e espadas benzidas pelos padres deserviço, ataca as missões, massacra os jesuítas e toma os índios como escravos. Um Te Deum solene celebra a vitória, como deve.Pouco depois o papa interdita a ordem dos jesuítas, culpada de ser muito inteligente e racional, e sobretudo de não ter servido com lealdade a família de Bourbon, reis de França e de Espanha,monarcas absolutos e grandes amigos da igreja católica.Ano de 1766Em pleno século das luzes, um jovem de 19 anos, o Cavaleiro de la Barre, passa "a vinte passos duma procissão, sem tirar ochapéu". É preso e torturado. Finalmente é decapitado depois de lhe terem cortado a língua. O seu corpo é depois colocado sobre umafogueira e queimado junto com um exemplar do Dicionário Filosófico deVoltaire, diante duma multidão entusiasmada.Ano de 1788No Cantão de Glaris, na Suíça, os católicos afirmam que "aúltima bruxa foi queimada", porém, esta execução da Inquisiçãonão foi a última, continuar-se-á queimando hereges até 1826.Ano de 1793Kant, professor de Filosofia em Konigsberg e estrela internacional da filosofia moderna, depois da publicação da "Crítica da RazãoPura", publica "A religião nos limites da Razão", onde ele coloca as doutrinas cristãs a prova do raciocínio e do "imperativocategórico". É demais para os piedosos reis da Prússia, que empurrado pelos prelados protestantes, intervém e Kant é forçado aretratar-se publicamente, sob pena de perder imediatamente o seu posto na universidade de Konigsberg. Todos os professores universitáriossão obrigados a assinar, sob pena de dispensa imediata, um documento onde prometem não citar os ensinamentos de Kant com relação areligião. Como no caso de Galileu, a fama internacional de Kant o salva de conseqüências mais severas. Kant ainda pensa em se exilar, masneste fim de século, há poucos céus clementes para pensadores queousaram criticar aspectos da ideologia cristã. Assim acabará os seusdias em Konigsberg.Ano de 1826O último herege é queimado vivo, pela inquisição espanhola.Uma rica tradição cristã termina. Daí para a frente, a igrejarecorrerá a meios mais sutis para matar, como proibir a assistência a mulheres que devem abortar, sabotando o planejamento familiar nos países pobres, proibindo os preservativos como modo de lutar contra a Aids, etc.Ano de 1847Guerra do Sonderbund. A Suíça é dilacerada por uma guerrareligiosa. Os cantões católicos, cujos governos estão muitoinfluenciados pelos conselheiros jesuítas, fundam uma aliança militar - oSonderbund, que exige a anexação aos cantões católicos de regiõesmajoritariamente protestantes. Chamam os monarcas católicos da Áustria em seuauxílio, depois iniciam as hostilidades. Somente uma vitória rápida dastropas federais/protestantes permitiu evitar uma intervençãoaustríaca, que levaria a um conflito de extensão européia.Os protestantes por seu lado, encetam uma feroz "Caça aoscatólicos", nos campos de Genebra.Os jesuítas, considerados responsáveis pela guerra, sãoexpulsos da Suíça, e essa expulsão valerá até 1970.Ano de 1848A população de Roma revolta-se contra a ditadura papal. O papaé expulso. Volta ao poder em 1849, devido a ação das tropasfrancesas enviadas por Luís Napoleão Bonaparte, presidente darepública francesa. Os opositores são fuzilados. O Estado da Igreja volta aser uma monarquia absoluta, cujo soberano é o papa.Ano de 1871O papa excomunga todo aquele que participar de qualquer eleição do estado italiano, que é classificado como "diabólico", porqueretirou aos papas o seu poder temporal. Essa sentença de excomunhão automática não impedirá o papa de abençoar, alguns anosdepois, a fundação do "Partito Populare", de inspiração católica efundado por um padre.Ano de 1881Os "Pogroms" russos começam. Incitados pelos prelados ortodoxos,que difundiram um boato que o Czar Alexandre II teria sido assassinado por um judeu, multidões se juntam em mais de 200 cidades russas e destroem os bens dos judeus. Os pogroms tornar-se-ão comuns na piedosa Rússia Czarista, sobretudo entre 1908 e 1917. O maisviolento dentre eles teve lugar em Kishinev, em 1913: as autoridades civis e religiosas da cidade incitam a multidão que ataca violentamente os judeus. durante dois dias a multidão mata 45 judeus, fere 600 epilha 1500 casas. Claro que os responsáveis (popes e políticos) nuncaserão incomodados pela justiça.Ano de 1889Numa Roma livre do jugo papal, no dia 9 de junho, é inaugurada a estátua de Giordano Bruno, no Campo das Flores. O papa LeãoXIII, sofredor, passará o dia todo de jejum aos pés da estátua deS. Pedro. A imprensa católica dispara: fala de "orgia satânica",descrevendo a manifestação da inauguração, o "triunfo da sinagoga, dos arquibandidos da Maçonaria, dos chefes do liberalismodemagógico", "o máximo da ignorância e da malignidade anti-clerical".Anos de 1918 a 1945Os anos do compromisso. A igreja católica apóia ativamente o crescimento dos totalitarismos na Europa. Na Áustria, o seu apoioao Austro-Fascismo é total. Na Itália, ela assina com o regimefascista uma concordata que faz do catolicismo a religião de estado: os italianos podem de novo votar sem serem excomungados, pena que isso de pouco serve em período de ditadura. A igreja sacrifica emgrande parte as suas próprias associações: todas, exceto a AçãoCatólica, devem integrar as organizações fascistas. O Vaticano promete a Mussolini fazer com que a AC não se deixe tentar por ações antifascistas.Em 1929, Mussolini, depois de ter assinado a concordata dita "Patti Lateranensi", é qualificado pelo papa como "o homem daprovidência". Em 1932, o ditador recebe das mãos do papa, a Ordem da Espora de Ouro, que é a mais alta distinção concedida pelo Estado doVaticano.Essa bela harmonia vai resistir mesmo ao momento de tensão causado pela estátua de Giordano Bruno. O papa aproveita a concordata para pedir ao seu amigo ditador que destrua a estátua erigida em 1889.O ditador, que tem um filho com o nome de Bruno, toma a defesa do livre-pensador e declara a Câmara de Deputados "A estátua de Giordano Bruno, melancólica como o destino desse monge, ficará onde elaestá. Tenho a impressão que seria se encarniçar contra essefilósofo que, se equivocado e persistiu no erro, no entanto já pagou". Paramostrar que não se arrepende de nada, a igreja canoniza então Roberto Bellarmino, o acusador de G. Bruno, nomeando-o "Doutor da Igreja".Na Alemanha, em janeiro de 1933, o Zentrum, partido católico, cujo líder é um prelado católico (Pralat Kaas), vota plenospoderes para Hitler: este último pode assim atingir a maioria de dois terços necessária para suspender os direitos garantidos pelaConstituição. Com uma caridade toda crista, o bom prelado aceita também fecharos olhos para os discutíveis processos nazistas, como a prisão dos deputados comunistas antes da votação. Depois a igreja começa a negociar uma nova concordata com a Alemanha: nesse cenário, ela sacrifica o Zentrum, então o único partido significativo que os nazistas não tinham proibido. Na realidade ele tinha-o ajudado a chegar ao poder. Em 5 de julho de 1933, o Zentrum se dissolve sob solicitação da hierarquia católica, deixando o caminho livrepara o NSDAP de Hitler, então partido único.Hitler declara-se católico no "Mein Kampf", o livro onde eleanuncia o seu programa político. Também afirma que está convencidoser ele um "instrumento de deus". A igreja católica nunca colocou no seu Índex o "Mein Kampf", mesmo antes da ascensão de Hitler aopoder. Podemos acreditar que o programa anti-semita do futuro chancelernão desagradava a igreja. Hitler mostrará o seu reconhecimentotornando obrigatória uma prece a Jesus nas escolas públicas alemãs, e reintroduzindo a frase "Gott mit uns" (Deus está conosco) nos uniformes do exército alemão.Em 1938, as SS e SA organizam a "Noite de Cristal": com trajes civis, os milicianos nazistas atacam sinagogas e lojas pertencentes a judeus. A população alemã está horrorizada e aterrorizada. Obispo de Freiburg, monsenhor Gröber, declara então, em resposta asperguntas sobre as leis racistas e os pogroms da noite de cristal: "Nãopodemos recusar a ninguém o direito de salvaguardar a pureza da suaraça e de elaborar medidas necessárias a esse fim". Na Espanha, um general tenta um golpe de estado militar, que aborta mas degenera em guerra civil. A igreja o apoia, padres e bispos benzem os canhões deFranco, celebram com muita pompa Te Deum pelas suas vitórias contra ogoverno republicano legítimo. A guerra faz mais de um milhão de mortos,e Franco fuzila todos os prisioneiros. Franco se mostraráreconhecido por seus piedosos aliados, nomeando diversos membros da Opus Dei para o seu governo. A influência da Opus Dei crescerá ao longo daditadura franquista, ao ponto de se chegar a mais de metade dos ministros serem membros dessa venerável instituição católica.Na França, a igreja declara, desde 1940, que "Petain é aFrança": ela prefere de fato o Trabalho-Família-Pátria ao do estadofrancês que prega a Liberté-Égalité-Fraternité da República, quesempre a horrorizaram.Durante a 2ª guerra mundial, o Vaticano estava ciente doextermínio dos judeus pelos nazistas. Saber-se-á, após a guerra, que opapa diversas vezes esteve para fazer um pronunciamento público, masque finalmente se absteve essencialmente pela sua comunistofobia e achando que uma vitória russa seria "pior". No entanto ele chorouem 1942, junto as ruínas de Roma, bombardeada pelos aliados.Também ele se esquece de mencionar que o seu aliado político Mussolini tinha solicitado a Hitler para ter "a honra de participar dos bombardeamentos sobre Londres", é verdade que o papa nao habitavaem Londres...Anos de 1948O papa declara que todo aquele que votar nos comunistas ou que ajudar esse partido de qualquer maneira, será automaticamenteexcomungado. Essa medida divide as famílias, provoca exclusões socialmente intoleráveis para muitos e obriga a clandestinidade de numerosos comunistas nas zonas rurais.Os curas italianos apressaram-se a traduzir essa decisao em fatos, e pedem que as suas ovelhas votem no grande partido anticomunista (DC - Democrazia Cristiana). O partido DC vai-se afundar logo em seguida na corrupção generalizada nos anos 90.Anos de 1961Última edição do índex (Índex Additus LibrorumProhibitorum), que cita como autores cujas obras são proibidas de leitura pelos católicos entre outros: Jean-Paul Sartre, Alberto Moravia,André Gide.Anos 80Depois de um período de aparente liberalização, o papa JoãoPaulo II chega a cabeça da maior seita do mundo e rende-se às maisterríveis tradições da igreja.A sua condenação do preservativo, como modo de luta contra a Aids, provoca um grande número de mortos, difícil de estimar. Praticauma política ativa de sabotagem às medidas de controle danatalidade no terceiro mundo. As consequências são difíceis decontabilizar, mas podem-se medir em termos de fome, miséria, criminalidade e faltade assistência médica nos continentes mais pobres - América doSul e África. Na sua caça aos hereges, o papa suspende "A divinis",dois teólogos alemães que tinham ousado duvidar, um dainfalibilidade papal e outro da imaculada concepção de Maria.Anos 90: guerras de religião na IugosláviaA Iugoslávia era, nos anos 80, uma das terras favoritas paraférias em balneários dos europeus. A publicidade iugoslava da épocavendia o caráter multireligioso do país como um argumento turístico,pois se podia ver em Mostar e em outras belas cidades, as mesquitas e as igrejas lado a lado. Mas o país se afundou numa série deguerras civis que se querem descrever como guerras "étnicas", quando na verdade se trata de guerras religiosas. O caso da guerra daCroácia é o mais flagrante. Sérvios e croatas tem a mesma origem étnica eaté a mesma língua, o Croata-servo. O mais irônico é que ocroata-servo (servo-croata, escrito em caracteres latinos), é hoje a língua oficial dos soldados do exército Iugoslavo que combateu em Kosovo contra a OTAN, depois de ter lutado contra os croatas no iníciodos anos 90. Mas a religião separa os croatas dos Sérvios: oscroatas foram cristianizados por Roma e sao católicos. Os sérvios foram cristianizados pelos bizantinos e sao ortodoxos. Quando Milosevitch começa a agitar o espectro da "Grande Sérvia", a Croáciadeclara a independencia. Imediatamente o Vaticano e a R. F. da Alemanha cujo chanceler se declarava um católico convicto, reconhecem aCroácia católica como estado independente. O Vaticano mandou para todo o mundo anúncios para que os países reconhecessem o novo estado católico. O papa multiplica os apelos, as preces e as missas pela independência da Croácia. Durante esse tempo, o ditador croata, antigo oficial superior do regime comunista e também católico praticante, deu férias para todos os seus funcionáriosortodoxos, isto é, sérvios. Depois escolheu como bandeira nacional aantiga insígnia dos Oustachis, que entre 1940 e 44 tinham praticado um genocídio de cerca de 600.000 sérvios. A guerra civiliniciou-se.Finalmente termina essa guerra, e o papa beatifica o cardeal Stepinac que havia qualificado Ante Palevitc, o ditador Oustachi durante a ocupação de 1940/44, de "Dom de deus", para a Croácia e o havia apoiado ativamente.A guerra da Iugoslávia continuou depois na Bósnia, onde osmembros dos tres grupos religiosos (ortodoxos, muçulmanos e católicos)se enfrentaram em uma série de combates triangulares, tendo apopulação civil como a principal vítima. Depois a guerra passou para oKosovo, província agrícola sem interesse estratégico, e todossabemos o que se passou.As guerras da Iugoslávia são um caso emblemático dacatastrófica intolerância que é típica das religiães "reveladas": ascomunidades religiosas se enfrentam, neste final de século, em nome dereligiões que elas receberam dos acasos da expansão dos diversos impérios (Romano, Bizantino e Otomano) desde a idade-média.

Fabiano Oliveira
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